Sim, este é um
dilema quase que poético, no que envolvem as várias modalidades de práticas
esportivas ao ar livre – campismo selvagem, estruturado, misto, etc.
As ferramentas de
corte foram os primeiros itens de auxílio à lida diária, criados pela
humanidade, justamente nos momentos em que tínhamos mais proximidade com a
natureza. Talvez, por conta disso, a maioria de nós, praticantes de atividades
outdoors, tem esse fascínio pelas lâminas dos mais variados tipos (isso é apenas
uma suposição romântica, evidentemente).
Antes de pontuarmos
algumas coisas direcionadas às lâminas, entendamos o seguinte: uma chave torx,
nunca servirá para apertar/afrouxar um parafuso philips, já, uma chave de fenda
pequena, poderá executar alguma tarefa num parafuso philips, dependendo,
evidentemente, de suas dimensões e do serviço que se pretende. Isso é apenas
uma alusão à adaptabilidade que uma faca pode ter, em diversas situações.
Bem, vamos ao que
nos interessa? Qual a ferramenta de corte ideal para o praticante de atividades
ao ar livre? É difícil responder. Não existe essa definição, pois as variáveis
são muitas, como por exemplo: umidade do ambiente, existência de maresia,
vegetação local, alimentos que irá lidar, distância que irá percorrer (por
conta do peso), disponibilidade financeira, gosto pessoal (formatos, materiais,
história), etc. A verdade é que, se formos providenciar uma lâmina diferente
para cada situação específica, nos tornaremos colecionadores, mesmo sem querer
e sem sentir.
Mas eu não tenho
tanto dinheiro, ou vontade de investir em tantos tipos de lâminas, o que eu
faço? Aí sim, temos um posicionamento que foca na relação “custo x benefício”,
satisfatória e efetiva.
Antes de começar a
se preocupar com aquisições, é bom parar, respirar e pensar muito calmamente em
suas reais necessidades e não em suas vontades, porque é justamente aqui o
local aonde mora o perigo da vaidade e consumismo – que são os principais
pontos que nos levam a um investimento errado (tanto em ralação ao gasto
financeiro, quanto à escolha do modelo certo).
Opções: Se busca um
facão, temos os Ka Bar, e alguns artesanais e semi-artesanais, na casa dos R$
600,00; Faca, também algumas importadas e outras hand-made, por volta de R$
450,00. Calma gente! Este é um daqueles exemplos do que não se deve fazer! Como
diz o humorístico: “Pegadinha do Malandro!". Em verdade, se você gosta e
tem disponibilidade financeira, vá em frente, mas lembrando que um canivete de
lâmina única, que custa R$ 1.000,00, terá pouco desempenho superior a um
nacional, em 440-c, de R$ 40,00. Vamos para a natureza com a ideia de
aproveitá-la e não de desfilar!
Vamos falar sério.
Hoje, contamos com itens de muito boa qualidade, com garantia e preços digamos
que, justos, para a realidade da maioria dos brasileiros. Sim, é possível ter
um excelente facão por R$ 25,00 (com bainha), um ótimo serrote dobrável por R$
40,00, um Canivete confiável, por R$ 40,00 e uma boa faca, por seus R$ 70,00.
Milagre? Não! Basta deletar da cabeça os conceitos de que somente marcas
importadas têm confiabilidade. O bom e velho facão Tramontina é referência no
exterior, o serrote dobrável da mesma marca já foi testado e aprovado por
muitos acampadores, os canivetes da Cimo J512/3 (com garantia ilimitada) e o
Heeler, trazem materiais que antes só víamos em itens importados. E, falando em
itens importados, conseguimos ainda fazer importação particular, de materiais
com excelente qualidade, abaixo dos R$ 100,00.
Mas eu realmente
preciso de tudo isso? A resposta é relativa. Não é porque temos muito material,
que devemos usar sempre todos de uma só vez. Devemos é evitar a redundância,
por exemplo: Se irei para uma mata que tenha muitos cipós, um facão seria uma
boa pedida, logo, o machado e o serrote se fazem desnecessários, mas, ainda
assim, uma segunda lâmina, de porte reduzido, fará diferença quando no preparo
de alimentos, ou em usos menores, tais como cortar um pedaço do corda, ou fazer
a ponta de uma estaca para ajustar a barraca, ou mesmo, ajustar um galho como
espeto, e, é justamente nessas situações que devemos usar a cabeça, porque um
canivetinho de 1” pode ser pouco, mas uma faca de 5”, já pode ser demais (excesso
de peso e volume).
Por esses dias, eu e
mais dois companheiros participamos de uma atividade de quatro dias em meio à
natureza, sem contato algum com a civilização e, acreditem se quiser, não
utilizamos nada mais, nada menos, que um serrote dobrável, um canivete pequeno
e uma faquinha de 2”, como itens cortantes. E não, não sentimos nenhuma
necessidade de algo a mais, mas sim, em verdade, poderíamos é ter excluído a
faca, ou o canivete.
A cada atividade que
faço, percebo que o item menos utilizado é o cortante. Entalhes para
armadilhas, arpões para pesca, ou caça, são coisas que uma pequena minoria
pratica e a outra grande parcela, apenas sonha em ter uma oportunidade de se
sentir o Rambo. Mas a realidade em atividades outdoor, é outra, porque quando a
fadiga e o estresse surgem e lembramos que temos tanto metal inútil dependurado
no pescoço, na cinta, ou dentro da mochila, começamos a entender acerca do
abismo existente entre a necessidade e a vaidade.
Dica: Temos uma
linha de “adoradores” das lâminas, sendo eles, os “cosplays selvagens”. Como
assim? Bem, esses são os que se transvestem de pioneiros da montanhas, de
soldados, ou de personagens de filmes e nessa atmosfera acabam por não observar
critérios mais sólidos, sérios e maduros, quanto à escolha do equipamento
ideal. Têm em mente que, se algum artefato cortante não tiver mais de 6
milímetros de espessura, fio superior a 30 centímetros de comprimento
(semi-serrilhado, para ser mais específico), e ter um USA, ou JAPAN, timbrado
em sua lateral, este, não possui qualificações suficientes para ser uma boa
lâmina. Ora, é lógico que tais características têm também suas funcionalidades,
mas não devem nunca serem usadas como um padrão para a indicação lâminas
direcionadas ao uso outdoor. Sendo assim, cuidado com reviews e orientações de
quem se fantasia demais e ainda, quem diz que uma peça é “muito boa”, mas esta,
não tem um risco sequer, pois estes são fortes indícios de imaturidade teórica
na matéria e inexperiência no uso. Tenham suas próprias experiências e
constatações, sem deixar interferências infantis afetarem o planejamento de
aquisição de seus equipamentos. Procure por pessoas que realmente conheçam a
teoria e a prática.
E, por fim,
aventure-se, mas não esqueça de pedir ajuda, quando estiver em dúvida!
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